Viola Davis foi a primeira mulher negra a ganhar o prêmio de melhor atriz em série dramática em 67 edições do Emmy. Em seu discurso, disse: “A única coisa que diferencia as mulheres negras de qualquer outra pessoa é a oportunidade”
A representatividade importa. Em um mundo em que a maioria das produções culturais são feitas por um olhar branco, machista e heteronormativo, ficamos com a sensação de que nossas histórias não são contadas quando nos viramos para as grandes telas do cinema ou dos televisores. Quem somos nós? As chamadas minorias: mulheres, negros, lésbicas, gays, bissexuais, transexuais. Apesar dos poucos avanços e da necessidade de se incluir grupos marginalizados, é perceptível a falta de interesse, incentivo e oportunidades, além da contínua naturalização do preconceito nos produtos audiovisuais.
Pelo segundo ano consecutivo, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood não indicou atrizes e atores negros ao Oscar. Muitos artistas negros optaram por boicotar a premiação, chamando a atenção para a questão racial no meio cinematográfico. Em 2015, a hashtag #OscarSoWhite (#OscarMuitoBranco) já apontava para a existência – e permanência – do racismo estrutural e velado. Pouca coisa mudou e, neste ano, o #OscarStillSoWhite (#OscarAindaMuitoBranco) tem reforçado a importância de se propor mudanças efetivas.

Após uma tentativa pouco eficaz de diversificar seus membros e de ser criticada pela lista de indicados deste ano, a Academia se propôs a incluir mais negros, latinos e homossexuais em seu júri, composto, majoritariamente, por brancos. Seria um avanço? A estudante de Arquitetura e Urbanismo e feminista negra interseccional, Stephanie Ribeiro, acredita que sim, mas diz que ainda é preciso implantar ações práticas e concretas, passando por todas as áreas: atuação, roteirização, produção e direção: “A realidade só vai mudar com um trabalho árduo, organizado e constante, para que negros, latinos e LGBTs sejam incluídos das mais diversas formas possíveis e, consequentemente, tenham seu talento reconhecido”.
Para ela, os filmes indicados este ano são produzidos a partir de um olhar branco, ignorando a necessidade de um olhar para o outro, no caso o negro, que é visto como o fora do comumente narrável. “A gente precisa contestar a normalidade baseada na figura do branco como representante universal e projeto de ser humano ideal. Aquele que é sujeito de grande parte das narrativas, que está centralizado e presente no enredo em todos os momentos e, por isso mesmo, tem mais chances de ser laureado. É isso que está sendo debatido. Essa discussão não é nova, para nós negros ela é constante e histórica”, explica.
Além disso, não se pode ignorar que a sociedade tem mecanismos de seletividade e exclusão. “Se compararmos as histórias de negros que ganharam Oscars com os brancos na mesma retrospectiva, veremos diferenças gritantes de chances, público, recepção, financiamento e narrativas”, completa Stephanie.
O mundo real no cinema e na TV

A falta de representatividade, seja no cinema, na TV, na música ou na literatura, influencia o cotidiano daqueles que não têm suas histórias contadas de uma forma que corresponda às suas realidades. Segundo Stephanie, é comum vermos negros com presença forte em filmes, novelas e séries produzidas por negros ou, ainda, quando são tratados temas como escravidão e trabalho doméstico. “As produções, em sua maioria, quando possuem personagens negros reforçam estereótipos racistas ao invés de criarem narrativas em que o negro protagoniza sua história e, direta ou indiretamente, o racismo é criticado. Nenhuma minoria é representada dentro de um contexto natural, pois não somos vistos ainda como naturalmente pertencentes à sociedade. E quando somos notados é pela estranheza, pela pobreza, pela sensualidade, pelo crime… Ainda nos é negada a cidadania”, ressalta.
Deixando de lado Hollywood, a falta de interesse e incentivo também atinge as produções brasileiras. “Falta boa vontade e muitas vezes caráter, autoavaliação e consciência para desconstruir o olhar racista, capacitista, machista, LGBTfóbico, ao qual fomos familiarizados e socializados a ter. Falo boa vontade, pois quem faz cinema, televisão e teatro no Brasil com recursos, visibilidade e à par das nas grandes empresas, são pessoas privilegiadas, que tiveram acesso à educação e à informação. Mas a resposta quando se deparam com o questionamento sobre seus privilégios, recai na negação. Basta lembrar do Miguel Falabella quando indagado sobre ‘Sexo e as Negas’. Se as pessoas não tiveram criticidade e abertura para entender que com inclusão todos ganham, ainda teremos um longo caminho e muito embate”, destaca.
Nos últimos anos, empresas como Netflix e Amazon têm oferecido produtos mais inclusivos. Outro destaque da TV é a produtora Shonda Rhimes, que segue a proposta de fazer a televisão parecer mais com o mundo real. Assim, a defesa e inclusão de minorias não deve ser vista como uma tendência ou um nicho com potencial mercadológico. Para Stephanie, a questão é sobre incorporação, permanência e o direito de se ver e ouvir negros: “A TV deveria enfrentar a realidade até como forma de denúncia ao invés de camuflar e romantizar opressões e narrativas. Não é uma tendência, pois isso informa algo passageiro. Deveria ser uma busca por algo próximo do público que vem cada vez consumindo mais, de forma mais crítica e personalizada, seguindo uma campanha que existe: ‘se eu não me vejo, não compro, não assisto, não vou'”.
Uma camada de atorrantes de menos de 30 anos, sem cultura alguma, querendo criticar o Falabella quando É EVIDENTE JÁ PELO NOME que a pilha do cara foi valorizar as negras. Basta, muchachas… se ficarem só no literal vcs não vão a lugar algum.